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sexta-feira, março 29, 2024

Insegurança olímpica

*Por Fabricio Rebelo

Desde os ataques terroristas do Estado Islâmico em Paris, na sexta-feira 13 de novembro, as preocupações mundiais com segurança em grandes eventos se multiplicaram consideravelmente. Com razão. Se garantir a paz social já é, normalmente, um desafio para muitas nações, impedir atos insanos em ocasiões especiais potencializa as dificuldades. No Brasil, porém, mesmo às vésperas de um evento esportivo de grandes proporções, o receio parece não encontrar eco.

Paris, a mais cosmopolita das capitais europeias, já estava em alerta contra o terror, principalmente após o ataque do início do ano, direcionado ao periódico Charlie Hebdo. Isso, como visto, não impediu as ações extremistas do último mês, que conseguiram concatenar atentados múltiplos e bem coordenados, causando a morte de mais de uma centena de pessoas. Os ataques levaram o presidente Fraçois Hollande a adotar uma série de medidas protetivas da sociedade, naquilo que chamou de guerra contra os terroristas.

Hollande, obviamente, compreendeu a dimensão da ameaça terrorista e partiu para o seu enfrentamento. As medidas podem ser discutíveis, mas o combate ao terror é inequívoco e tem como mérito a adoção do primeiro passo: reconhecer o risco.

Em San Bernardino, na Califórnia, naquele que, sem dúvida, é o país mais preocupado com ataques terroristas, um casal de fundamentalistas ligados ao mesmo Estado Islâmico abriu fogo contra pessoas em uma confraternização. Foram 14 mortos e mais de uma dezena de feridos. Embora com uma resposta rápida da polícia, o máximo que se conseguiu foi matar os responsáveis pelo ataque, mas ele já estava praticado e o terror novamente instalado.

Os exemplos de como a guerra ao terror é dramática são claros. Por mais que uma nação se empenhe para evitar ataques como os de Paris, o da Califórnia e outros tantos, o grau de sucesso ainda é baixo, e impedir que cidadãos sejam vitimados não tem sido um objetivo plenamente alcançável. Por isso, é preocupante constatar a conduta tangencial à leviandade que vem sendo adotada pelas autoridades brasileiras em relação à segurança das Olimpíadas de 2016.

Se o avanço do terrorismo no mundo tem correspondido ao reforço das medidas de proteção, por aqui se busca verdadeira salvação pela negação. Ao invés de ações mais estruturadas, reforço nos sistemas de inteligência e maior controle do ingresso de estrangeiros no país, vemos as autoridades adotarem o discurso de que estamos imunes a riscos, distantes de qualquer envolvimento com o terrorismo. A despreocupação é tanta que até os vistos para os estrangeiros que virão acompanhar os jogos foram, pasme-se, dispensados.

Uma das caraterísticas de atos terroristas está em sua imprevisibilidade e na busca por atingir seus enviesados objetivos por caminhos igualmente tortuosos. Um ataque a qualquer delegação do país que se escolha como alvo tem exatamente o mesmo efeito de atacá-lo em seu próprio solo, mesmo que esta delegação esteja em uma nação tida como “neutra”. O mínimo que, responsavelmente, se espera do país que será palco de um evento como as Olimpíadas é atenção redobrada e medidas efetivas quanto ao terror, nunca ignorar conscientemente os riscos que o cercam.

Apenas acreditar que nada vai acontecer é confiar demais no acaso, talvez apostando na ideia de que Deus é brasileiro. Mas ele pode não ser. Aliás, para os extremistas islâmicos, por exemplo, não é.

* Fabricio Rebelo é pesquisador em segurança pública, assessor jurídico e coordenador do Centro de Pesquisa em Direito e Segurança – Cepedes.

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