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terça-feira, abril 16, 2024

Salutogênese: qualidade de vida na terceira idade

Por Mônica Rosales

Não é um fato novo que a Saúde Pública tem dificuldades de dar conta da demanda crescente da população idosa. Pessoas envelhecem mais e adoecem todo os dias, está claro que é preciso formular políticas públicas a fim de dar conta dignamente de atendimento e tratamento adequado para cada cidadão.
A salutogênese é a aptidão do indivíduo para viver com qualidade, resistir aos males, movido por um senso de coerência e outros valores subjetivos positivos. A ideia é enfrentar a vida em situações adversas e ainda assim tornar-se flexível, interior e exteriormente.

A visão da médica alemã Dra Michaela Gloeckler, pesquisadora da salutogênese, mostra que nos aproximamos de uma sociedade onde apenas 20% da população estará ativa, enquanto 80% dependerá da assistência social. As pessoas vivem mais, continuam a se aposentar, mas não estão necessariamente saudáveis para encarar a idade. Isso nos coloca em um desafio de como inverter esta relação, na qual 80% da população deveria ser ativa e saudável para cuidar dos 20% que não conseguem fazê-lo.

Isso levanta o questionamento sobre de onde vem a saúde e como ela pode ser fortalecida. Um assunto que deveria estar cada vez mais em pauta. Como podemos, para além das vacinas, criar resistência interna? É justamente esse o paradigma da salutogênese, que busca a gênese da saúde dentro uma visão integral do ser humano. A salutogênese tem sido tema de pesquisa, inclusive econômica, desde o fim do século XX.

Apesar das vicissitudes da vida, conseguir manter um olhar vivo e um sorriso no rosto, mostra onde reside um segredo para uma vida equilibrada. É no agir cotidiano que devem estar imbuídos propósitos maiores, já que a perda de conexão com o sentido da existência é um fator desintegrador. Estar sadio é estar inteiro, íntegro!

Para isso, é preciso manter o sentido de coerência interno. Desde a infância, a criança deve aprender que o mundo deve ser compreendido, que ele é significativo e valioso, e que pode ser manejado. A convivência com os mais velhos, que passaram por situações duras e que mesmo assim parecem estar de bem com a vida, é talvez uma das maiores fontes de aprendizado. Idosos que por sua vez tem um sentido de valia e pertencimento no meio em que atuam, certamente tem mais forças de saúde renovadas.

A resiliência é o segundo elemento fundamental. Passar por cima da derrota e se reerguer novamente. Para além da hereditariedade e do meio, relacionamentos honestos que gerem dignidade, respeito e confiança têm importância central no fortalecimento do corpo e na imunidade. Estudos de qualidade de vida apontam que a capacidade de manter e criar vínculos está entre os maiores patrimônios da vida.

A terceira parte do processo da busca pela salutogênese é a heterostase, que significa estado diferente, e sugere desenvolver a capacidade de adaptação, sempre em um equilíbrio dinâmico. É a habilidade do ser humano de se confrontar com o que lhe é estranho, fortalecendo-se. Reconhecer os limites da resistência física e psíquica e ampliá-los é mais um ponto a favor do equilíbrio.

Por último, deve-se criar força de resistência no campo espiritual. Quando chega o momento de passar a vida a limpo, isso deve ser feito com coragem, ou seja, na esfera do coração, da consciência ética e do amor, onde se torna possível cultivar um relacionamento estável com Deus.

Para além do que recebemos como atributos, sejam genéticos ou pelo meio em que vivemos, há um convite para desenvolver a saúde, dentro da proposta salutogênica. No âmbito pessoal, dedicar todo dia um pouco de tempo para o auto-cultivo, como num ócio cultivado, no sentido de nos tornarmos virtuosos, é uma prática milenar, consagrada. No campo social, o espírito salutogênico inspira há anos em várias partes do mundo a promoção e qualidade de vida integral.

A criação de centros comunitários abrangem as três esferas interdisciplinares, NA-CUL-HEAL (Nature, Culture and Heal). A primeira, Natureza, demonstra a dimensão relacional com o meio ambiente total: natureza, pessoas e ecologia humana. A segunda: Cultura, é a promoção de atividades artísticas e culturais, incluindo e valorizando as raízes culturais. A terceira, a Saúde, evidencia a necessidade de atividades de promoção e prevenção da saúde plena.

No Brasil, tem-se notícia de alguns destes programas, implantados com sucesso, sendo o da favela Monte Azul, em São Paulo, reconhecido pela Unesco. A comunidade tem feito um belo caminho de desenvolvimento rumo à uma vida mais digna e com sentido, ainda que em situações adversas.

A Associação São Joaquim de Apoio à Maturidade, em Carapicuíba, São Paulo, também vem construindo um programa coletivo, numa comunidade de idosos em situação de vulnerabilidade social, que abrange a atuação salutogênica. Em um nível individual, de pessoa para pessoa e com uma mentalidade cooperativa, idosos têm reinventando sua forma de ser e atuar no mundo.

Seria utopia? Os contextos micro-sociológicos e a micro-política podem e deve inspirar os 80% da população que quer e deve fazer a diferença no cenário. Ou se reinventa, ou se padece. Essa é a proposta e o caminho proposto pela salutogênese.

Para os que quiserem saber mais sobre o assunto, no dia 17 de agosto, a Associação São Joaquim de Apoio à Maturidade irá oferecer um evento aberto a profissionais da área de cuidado com o idoso e pessoas interessadas em trabalho social. Haverá um café da manhã com uma mesa redonda com especialistas falando sobre envelhecimento pleno. Entre eles estão Jorge Félix, do Portal da Longevidade, Plínio Cutait, mestre em reiki e responsável pelo Departamento de Práticas Integrativas do Hospital Sírio Libanês, Simone Espadafora, mestre gerentóloga e diretora da São Joaquim, além de Neuma D’Ávila Pinto Nogueira, assistente social do Grupo Vida. Fátima Belo, que será a mediadora da discussão.

Mônica Rosales é terapeuta e co-fundadora e idealizadora da Associação São Joaquim de Apoio à Maturidade.

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